Arte Budista / Mandalas

27/06/2010 23:12

A arte é uma expressão exclusivamente humana. Por meio da arte comunicamos nossas percepções mais sutis, e conferimos estrutura e ordem ao mundo que percebemos ao nosso redor. Embora as formas que a arte apresenta sejam extraídas do nosso ambiente natural, o modo como as organizamos reflete a estrutura da nossa mente. Surgindo da mente e condicionada pela mente, a arte é um espelho da nossa consciência.

A arte penetra na esfera do sagrado quando transcende expressões culturais e pessoas e espelha os níveis mais profundos da nossa mente. No reino do sagrado a arte tem o poder de iluminar dimensões da consciência inacessível aos sentidos físicos, podendo despertar nossas percepções mais sutis e nos mostrar nossa verdadeira natureza.

A arte budista é inspirada pelo Buddha, que manifestou o conhecimento iluminado por meio de sua forma, fala e ação. Cada aspecto do corpo do Buddha, de perfeitas proporções, transmite a harmonia e desperta a serenidade da mente. Um simples olhar do Buddha levou milhares de seres a gerarem o desejo de alcançar a iluminação. Diz-se que o brilho emanado do corpo do Buddha ultrapassava tanto as percepções humanas comuns que os artistas não conseguiam representar sua forma diretamente. Segundo um relato, a primeira imagem do Buddha foi feita a pedidos do Rei Bimbisāra, que desejava apresenta-la a Udāyana, o rei de uma região distante. Depois de ver a pintura, Udāyana, tocado por sua beleza, pediu que os símbolos e a inscrição lhe fossem explicados em detalhes. Inspirado a meditar, o Rei Udāyana alcançou um insight profundo sobre o valor deste ensinamento. Repleto de alegria, convidou monges budistas para estabelecerem o Dharma em suas terras. O princípio do mandala está representado na arte como um diagrama da estrutura da consciência humana. Na prática, mandalas são mapas do âmago do nosso ser.

 

A mandala é constituído da seguinte forma: a figura central, ou yi-dam, as figuras que formam o séqüito do yi-dam, as proporções e a colocação de cada figura, assim como suas cores e ornamentações; e a “arquitetura” do mandala em si. Embora o mandala apareça nas pinturas como uma forma circular e plana, o mandala é, na verdade multidimensional. Seus pontos básicos são o centro, os quatro pontos cardeais, o ápice e o nadir. Dimensões complementares do mandala podem também ser representadas por símbolos ou figuras: quatro direções secundárias, oito intermediárias e mais dezesseis direções – um total de 35 pontos. As proporções do mandala, as figuras, e sua disposição são determinadas matematicamente.

A estrutura básica resultante serve como uma planta para sua forma final. Yi-dams são representados em formas pacíficas, iradas ou intermediárias. A forma pacífica pode ser encontrada na beleza prístina de Tārā, mãe da compaixão; a forma irada é encontrada na ameaçadora e escura figura de Śrī Vajrabhairava, e a forma intermediária na representação do belo, porém temível, Cakrasamvara de doze braços. Regras precisar, contidas nos textos, governam cada aspecto do mandala, tornando-o um veículo poderoso de transformação da consciência. Em qualquer mandala, os símbolos têm muitos níveis de significado, que dependem do ensinamento ou sistemas de ensinamento transmitidos pela tradição oral de mestre a discípulo. Portanto, o acesso aos significados dos símbolos representados nos mandalas é possível somente por meio do estudo e da prática, dentro de uma linhagem que tem preservado seu completo significado. As tentativas de representar os mandalas, interpreta-los, ou usa-los em práticas podem somente resultar em confusão, se não houver a iniciação adequada e a instrução correta.

 

Mandala, palavra originária do Sânscrito, língua morta do povo hindu, significa literalmente, "o círculo", sendo o primeiro arquétipo da geometria sagrada. O ponto central da mandala chama-se Bindu. Não se tem uma data precisa da origem da mandala, presume-se que tenha sido a partir da explosão do universo, no entanto não há registros. Tem-se, porém a indicação de que Padma Sambava, no Tibet, sugeriu que se usasse Mandalas para meditar, isso ocorreu no século 8 a C. Construir e meditar diante das Mandalas são aspectos muito importantes para os budistas e os hindus. Elas são comumente encontradas no oriente e usadas, sempre, como uma ferramenta para facilitar a contemplação e a meditação. A contemplação da geometria sagrada, associadas ao estudo ou a sua criação, podem conduzir à sua compreensão, mesmo que as mandalas possam ser pensadas como uma invenção oriental, é difícil encontrar uma cultura (antiga ou moderna) que não reconheça as qualidades simbólicas e os potenciais que transcendam o círculo e a geometria nela contida. Muito antes de Padma Sambava levar ao Tibet os conceitos curadores quando se concentra nas Mandalas, Xamãs americanos nativos já haviam descoberto os poderes de cura guardados dentro do círculo das mandalas, que eles traçavam na areia, durante os rituais de cura.

A geometria simbólica da arte americana nativa está contida nos quatro sentidos: norte, sul, leste, oeste. O círculo está muito presente em nossas vidas, no nosso dia a dia, nos conectando com "algo" muito maior, remetendo a nossa visão para um plano superior. Após muitos anos debruçado na pesquisa, definiu-se as mandalas como um círculo mágico que representa simbolicamente o EU ou o SEL - arquétipo da unidade interior.

Criar uma mandala é trazer para o consciente o que está no seu eu mais profundo, no entanto muito há que se explorar, ainda, nesse sentido. A criação das mandalas e o seu poder está contido no que não podemos atingir com palavras, elas exercem um fascínio pela magia dos seus movimentos. Em suma, a Mandala é, essencialmente, o "espelho da alma", o código pessoal, a viagem interna, auto conhecimento busca do equilíbrio, integração com o Universo, experiência mística, representação física do Eu, a história da nossa vida.