As práticas simbólicas do homem pré-histórico
Datam de cerca de 2 milhões de anos atrás os mais antigos vestígios de utensílios produzidos pelo homem. Fazer utensílios, embora pareça algo simples, exige a capacidade prévia de pensar que pedaços de madeira podem servir para apanhar frutas e que as pedras podem servir para quebrar ossos.
Logo que o homem foi capaz de fazer isso, começou a descobrir que certos galhos e pedras tinham uma configuração mais adequada que outros, e os pôs de parte para uso futuro. Escolheu-os e os considerou como utensílios porque já tinha começado a associar forma à função.
O grande “salto”, porém, se deu quando esse mesmo homem começou a aparar, desbastar ou talhar esses instrumentos naturais para lhes dar formas mais adequadas à utilização requerida. Esse passo faz com que o homem entrasse na fase de desenvolvimento humano conhecida como Paleolítico.
O Paleolítico (pedra primeira, primitiva), que se estende de 4 milhões a cerca de 5.000 a.C, é também conhecido como Período da Pedra Lascada. Pertencem ao Paleolítico Final, que começou por volta de 32.000 anos a.C, as mais antigas obras de arte conhecidas.
Essas obras de arte são, na verdade, manifestações e práticas simbólicas desses homens primitivos. Muitas se encontram em cavernas, os abrigos naturais dos grupos humanos, notadamente nômades, que se reuniam para caçar, se proteger e procriar. Existem cavernas com inscrições em praticamente todas as partes do mundo: na África, na Ásia, na Oceania, na América e na Europa. Entretanto, as mais impressionantes estão, sobretudo, na Europa. As obras mais impressionantes da arte paleolítica são as pinturas rupestres nessas cavernas, em que o tema é, quase sempre, a caça: bisões e mamutes preenchem a quase totalidade desses espaços.
Entre os sítios arqueológicos de maior impacto estão o de Lascaux, na França, e o de Altamira, na Espanha.
O surpreendente é o naturalismo com que essas imagens são apresentadas: os animais aparecem com raro grau de realismo, sendo que, muitas vezes, saliências ou cavidades das rochas eram utilizadas pelo “artista” para criar a ilusão de uma saliência do próprio corpo do animal, como um olho, uma boca, ou mesmo maior potência e poder. Curiosamente, porém, enquanto os animais aparecem grandes e robustos, os homens geralmente são representados pequenos, com formas simplificadas e sem rosto.
Segundo pesquisadores, essas imagens do período Pré-Histórico atenderiam a necessidades específicas do homem daquele tempo. No caso: caçar, principalmente. Entretanto, a vida também não deveria ser nada fácil. Os óbitos eram muito constantes, os partos, traumáticos... Assim, uma figura preponderante para a manutenção da espécie era a mulher. E a imagem feminina será, ao lado das imagens de grande animais (= comida), uma das mais encontradas nesses sítios arqueológicos. A imagem será de uma fêmea grande, de ventre e seios dilatados, induzindo a uma imagem de fertilidade.
É por volta de 8.000 a 7.000 a.C que o homem passa pela chamada Revolução Neolítica. As principais mudanças desse período estão relacionadas à relação que o homem passa a estabelecer com a terra: ele deixa de ser nômade e passa a ser sedentário. Ao operar isso, esse mesmo homem passa a domesticar animais e a ter as primeiras experiências com o cultivo de alimentos.
Se o homem do Paleolítico levara uma vida errante de caçador, colhendo plantas e frutos silvestres, à mercê de forças que não podia compreender nem dominar, o homem do Neolítico aprenderia a assegurar a sua alimentação pelo próprio trabalho, formando comunidades permanentes, fixadas em aldeias. Uma disciplina e uma nova ordem então surgiram. Por isso, há uma grande diferença entre esses dois períodos, embora o homem continuasse utilizando a pedra lascada como utensílio principal e também como matéria-prima de suas armas.
O novo estilo de vida suscitou um número importante de inventos e de atividades artesanais, muito antes do aparecimento dos metais (por volta de 4.000 a.C). Surgiram, assim, a cerâmica, a fiação e a tecelagem, assim como os métodos básicos de construção em madeira, tijolos e pedra, naturalmente.
Um achado interessante do período Neolítico são as cabeças de Jericó. Trata-se de caveiras humanas autênticas, cujos rostos foram “reconstituídos” com argila e com conchas representando os olhos. Cada rosto, surpreendentemente, revela um tipo único de fisionomia, cada um possui feições marcadamente individuais, e é isso que encanta pesquisadores até hoje.
Ao invés das imagens paleolíticas, que parecem ter nascido da percepção de imagens acidentais, as cabeças de Jericó não pretendem “criar” a vida, mas sim perpetuá-la, substituindo a carne por uma substância mais duradoura. Pelas circunstâncias em que foram encontradas, supõe-se que eram expostas acima do chão, enquanto o resto do corpo ficava enterrado sob o pavimento das casas.
Já encontramos, notadamente, sepulturas do homem do Paleolítico. Sabemos que ele enterrava seus mortos, mas desconhecemos que idéias ele associava à sepultura: encararia a morte como regresso à terra-mãe, ou teria alguma concepção do além-mundo?
As cabeças de Jericó, pelo contrário, sugerem que o homem do Neolítico acreditava num espírito ou alma, localizado no crânio, que podia sobreviver ao corpo e tinha poder sobre o destino das gerações seguintes, devendo, por isso, ser apaziguado. Essa consciência antecipa, de certa forma, o homem que vamos ter, justamente, na Mesopotâmia, o primeiro berço da civilização.