Maneirismo

27/06/2010 23:05

Paralelamente ao renascimento clássico, desenvolve-se em Roma, do ano de 1520 até por volta de 1610, um movimento artístico afastado conscientemente do modelo da antiguidade clássica: o maneirismo (maniera, em italiano, significa maneira). Uma evidente tendência para a estilização exagerada e um capricho nos detalhes começa a ser sua marca, extrapolando assim as rígidas linhas dos cânones clássicos.

 

Alguns historiadores o consideram uma transição entre o renascimento e o barroco, enquanto outros preferem vê-lo como um estilo, propriamente dito. O certo, porém, é que o maneirismo é uma conseqüência de um renascimento clássico que entra em decadência. Os artistas se vêem obrigados a partir em busca de elementos que lhes permitam renovar e desenvolver todas as habilidades e técnicas adquiridas durante o renascimento.

 

Uma de suas fontes principais de inspiração é o espírito religioso reinante na Europa nesse momento. Não só a Igreja, mas toda a Europa estava dividida após a Reforma de Lutero. Carlos V, depois de derrotar as tropas do sumo pontífice, saqueia e destrói Roma. Reinam a desolação e a incerteza. Os grandes impérios começam a se formar, e o homem já não é a principal e única medida do universo.

 

Pintores, arquitetos e escultores são impelidos a deixar Roma com destino a outras cidades. Valendo-se dos mesmos elementos do renascimento, mas agora com um espírito totalmente diferente, criam uma arte de labirintos, espirais e proporções estranhas, que são, sem dúvida, a marca inconfundível do estilo maneirista. Mais adiante, essa arte acabaria cultivada em todas as grandes cidades européias.

 

A arquitetura maneirista dá prioridade à construção de igrejas de plano longitudinal, com espaços mais longos do que largos, com a cúpula principal sobre o transepto, deixando de lado as de plano centralizado, típicas do renascimento clássico. No entanto, pode-se dizer que as verdadeiras mudanças que este novo estilo introduz refletem-se não somente na construção em si, mas também na distribuição da luz e na decoração.

 

Principais características:

Nas igrejas:

· Naves escuras, iluminadas apenas de ângulos diferentes, coros com escadas em espiral, que na maior parte das vezes não levam a lugar nenhum, produzem uma atmosfera de rara singularidade.

· Guirlandas de frutas e flores, balaustradas povoadas de figuras caprichosas são a decoração mais característica desse estilo. Caracóis, conchas e volutas cobrem muros e altares, lembrando uma exuberante selva de pedra que confunde a vista.

 

Nos ricos palácios e casas de campo:

· Formas convexas que permitem o contraste entre luz e sombra prevalecem sobre o quadrado disciplinado do renascimento.

· A decoração de interiores ricamente adornada e os afrescos das abóbadas coroam esse caprichoso e refinado estilo, que, mais do que marcar a transição entre duas épocas, expressa a necessidade de renovação.

 

É na pintura que o espírito maneirista se manifesta em primeiro lugar. São os pintores da segunda década do século XV que, afastados dos cânones renascentistas, criam esse novo estilo, procurando deformar uma realidade que já não os satisfaz e tentando revalorizar a arte pela própria arte. 

Principais características :

· Composição em que uma multidão de figuras se comprime em espaços arquitetônicos reduzidos. O resultado é a formação de planos paralelos, completamente irreais, e uma atmosfera de tensão permanente.
· Nos corpos, as formas esguias e alongadas substituem os membros bem-torneados do renascimento. Os músculos fazem agora contorsões absolutamente impróprias para os seres humanos.

· Rostos melancólicos e misteriosos surgem entre as vestes, de um drapeado minucioso e cores brilhantes.

· A luz se detém sobre objetos e figuras, produzindo sombras inadmissíveis. 

· Os verdadeiros protagonistas do quadro já não se posicionam no centro da perspectiva, mas em algum ponto da arquitetura, onde o olho atento deve, não sem certa dificuldade, encontrá-lo. 

 

Na escultura, o maneirismo segue o caminho traçado por Michelangelo: às formas clássicas soma-se o novo conceito intelectual da arte pela arte e o distanciamento da realidade. Em resumo, repetem-se as características da arquitetura e da pintura. Não faltam as formas caprichosas, as proporções estranhas, as superposições de planos, ou ainda o exagero nos detalhes, elementos que criam essa atmosfera de tensão tão característica do espírito maneirista.


Principais características:

· A composição típica desse estilo apresenta um grupo de figuras dispostas umas sobre as outras, num equilíbrio aparentemente frágil, as figuras são unidas por contorsões extremadas e exagerado alongamento dos músculos.

· O modo de enlaçar as figuras, atribuindo-lhes uma infinidade de posturas impossíveis, permite que elas compartilhem a reduzida base que têm como cenário, isso sempre respeitando a composição geral da peça e a graciosidade de todo o conjunto.

 

1. Tintoreto

Jacopo Robusti, conhecido como Tintoretto, nasceu em Veneza por volta de 1518. Filho de um tintureiro de sedas (daí o cognome), sabe-se que entrou ainda jovem para o ateliê de Ticiano, onde ficou poucos dias.

Em 1539, no entanto, já se estabelecera como pintor, e voltou de uma viagem a Roma impressionado com a obra de Michelangelo.

Após pintar afrescos para a igreja de Santa Maria dell'Orto, recebeu em 1548 a encomenda de decorar a Scuola di San Marco, trabalho que lhe valeu grande fama.

Em 1550 casou-se com a filha de um banqueiro e até o fim da vida dedicou-se somente à pintura.

Durante muito tempo Tintoretto foi classificado como o último pintor renascentista; passou depois a ser considerado o primeiro mestre da pintura barroca; hoje é apontado como grande vulto do maneirismo.

É difícil classificá-lo com precisão, pois em sua obra existem exemplos das três correntes. O pintor preocupou-se igualmente com a forma e com a cor, numa síntese florentino-veneziana que para outro mestre teria sido impossível.

Segundo a tradição, teria escrito na porta do seu ateliê: "Desenho de Michelangelo e colorido de Ticiano."

A obra de Tintoretto está concentrada sobretudo em Veneza, mas seus quadros a óleo escureceram, em parte porque ele não costumava reforçar o branco das telas antes de pintar as cores escuras.  Suas obras, altamente dramáticas, fogem à placidez e regularidade da composição renascentista.

A fama de que desfrutou o pintor como mestre do colorido, a despeito da deterioração de seus óleos, sobrevive em função da alta qualidade emocional das telas. A dramaticidade dos quadros de Tintoretto somente pode ser equiparada a sua inesgotável atividade; daí seu outro apelido da época, "Il Furioso".

Autodidata, a princípio estudou e copiou obras de Michelangelo e Sansovino. Executou trabalhos sem nada cobrar ou apenas pelo preço do material utilizado: são os casos da decoração da igreja de Santa Maria dell'Orto e da Scuola di San Marco. Nesta última concluiu em 1548 um de seus quadros mais importantes: o "Milagre de são Marcos" (hoje na Academia de Belas-Artes, Veneza), no qual procurou exaltar o movimento e o volume dos corpos pela luz, sem sacrificar a cor.

A partir de 1550, Tintoretto recebeu numerosas encomendas de procedências diversas. Dessa fase há, entre outros trabalhos, "Adão e Eva" (1550-1553), "Abel e Caim" (1550-1553), "Santo André e São Jerônimo" e "São Jorge e a princesa", os dois últimos para o Palazzo Ducale.

A mais célebre das obras desse período foi "Susana no banho" (1560-1564).

Em 1564, a Scuola di San Rocco abriu concurso para a decoração de suas salas e convidou os principais pintores venezianos a participar. Todos apresentaram um simples projeto, mas no dia da decisão do certame Tintoretto mandou descobrir uma parede da instituição e mostrou um trabalho acabado, que ofereceu de presente.

Como o estatuto da escola não permitisse a recusa de doações, a vitória coube ao pintor que, além de vencer o concurso, recebeu contrato para a execução de outras obras. Nessa mesma instituição, Tintoretto deixou importante repositório de arte. A primeira de suas obras ali pintadas foi uma "Crucificação" (1565), seguida de uma história da "Paixão" (1566), com cenas que salientam os impulsos humanos dos personagens, como em "Cristo diante de Pilatos", "Tentação de Cristo" e a "Ceia".

Em 1577, Tintoretto começou a decorar o segundo pavimento da escola e executou "O maná", "Moisés aspergido com a água do regato" e "Adoração da serpente de bronze". Para o teto, principalmente, pintou cenas dos dois testamentos, em que se destaca a "Fuga para o Egito".

O pintor executou ainda obras avulsas, como o "Juízo final" e a "Batalha de Lepanto", destruídas no incêndio que consumiu o Palazzo Ducale de Veneza em 1577. Para esse palácio concluiu, pouco antes de morrer em Veneza, em 31 de maio de 1594, o monumental "Paraíso", um dos maiores quadros a óleo do mundo

 

2. El Greco

Domenikos Theotokópoulos, o El Greco, foi um pintor, escultor e arquiteto grego que desenvolveu a maior parte da sua carreira na Espanha. Em sua época teve somente dois seguidores de seu estilo: o seu filho Jorge Manuel Theotocópoulos e Luis Tristán.

Nasceu na antiga localidade de Cândia, atual Iráklio, capital da conhecida ilha grega de Creta, naquele momento pertencente à Sereníssima República de Veneza, e, em 1560, se transferiu para a cidade de Veneza. De sua carreira artística, anterior à sua chegada a esta cidade pouco se conhece. Contudo, recentemente foi identificado um dos seus trabalhos, na Igreja de Koimesis tis Theotokou, em Syros.

Em Veneza trabalhou no ateliê do famoso pintor Ticiano e, sem dúvida, conheceu a pintores como Tintoretto, Veronèse e Bassano, bem como a obra dos pintores maneiristas do centro de Itália, entre eles Domenichino, Parmigianino, etc. Entre suas mais conhecidas obras de seu período veneziano pode se encontrar A cura do cego, onde se percebe a total e solene influência de Ticiano. Quanto à composição de figuras e à utilização do espaço, a influência de Tintoretto é notável.

Ao fundir as formas iconográficas bizantinas com o desenho e o colorido da pintura veneziana e a religiosidade espanhola. Na verdade, sua obra não foi totalmente compreendida por seus contemporâneos. Nascido em Creta, acredita-se que começou como pintor de ícones no convento de Santa Catarina, em Cândia. De acordo com documentos existentes, no ano de 1567 emigrou para Veneza, onde começou a trabalhar no ateliê de Ticiano, com quem realizou algumas obras.

 

Entre suas obras mais importantes estão O Enterro do Conde de Orgaz, a meio caminho entre o retrato e a espiritualidade mística. Homem com a Mão no Peito, O Sonho de Filipe II e O Martírio de São Maurício. Esta última lhe custou a expulsão da corte.

Em 1570 viajou para Roma. Aqui tomou contacto com pintores como Michelangelo, facto que marcaria profundamente sua carreira artística recebeu. Na Itália, o pintor era conhecido como Il Greco (o Grego), apelativo referente à sua origem e pelo que passou à posteridade. Entre as principais obras de seu período romano podem encontrar-se a Purificação no Templo e o Retrato de Giulio Clovio, tal como A Piedade. Nesta última obra, se percebe claramente a influência de Michelangelo.

Em 1577 se estabeleceu em Toledo, na Espanha, onde permaneceu até à sua morte. Aqui realizou, sem dúvida, suas obras mais maduras. Realizou várias composições de altares de igrejas e obteve o apoio do rei Felipe II para quem pintou O Martírio de São Maurício e a Legião Tebana, mas, infelizmente, o trabalho do pintor não foi do agrado do rei.

El Greco foi, além de tudo, um grande retratista, tendo pintado especialmente clérigos e nobres. Destes retratos é particularmente reconhecido o Retrato do Cardeal Don Fernando Niño de Guevarra. Porém, suas obras-primas foram, sem sombra de dúvida, O enterro do Conde Orgaz e O Baptismo de Cristo. Hoje, muitas das obras do pintor encontram-se expostas no famoso Museu do Prado, em Madrid.