Renascença Italiana

27/09/2010 10:56

1. Leonardo Da Vinci

 

Leonardo nasceu numa aldeia perto de Florença, Itália, em 1452. Seu pai, o tabelião Piero não se casou com a jovem Catarina e recusou-se a dar ao menino um nome, o que veio a tornar famosa a aldeia de Vinci. Um dos maiores gênios de todos os tempos, principal figura da renascença Leonardo consegue ser um mestre da pintura com apenas meia dúzia de quadros -- os únicos que lhe podem ser atribuídos com toda certeza e exclusividade -- entre os quais estão o mais famoso do mundo, a Mona Lisa, e o mais reproduzido na história da arte, A Ceia.

 

Leonardo passou a infância na casa do avô, longe do pai, mimado pela mãe. Jovem, não foi um exemplo de força de vontade ou rigidez de caráter. Em 1476, por exemplo, os arquivos locais registram duas denúncias contra ele, por maus costumes (sem revelar o que seriam estes atentados ao pudor público). Aos 16 anos já desenhava e pintava, e o pai mandou-o a Florença para trabalhar no ateliê de Verrocchio. Florença era naquela época, cidade de grande prestígio e de muitas glorias. Seu governador, Lourenço de Médicis, chamado "o magnífico", a transformara num centro de cultura, dera-lhe paz e prosperidade. A arte florentina estava no apogeu: Verrocchio, Botticelli, Filippino Lippi e Ghirlandaio - entre outros - ali trabalham protegidos pelo regente. A extraordinária beleza física de Leonardo abre-lhe as portas: louro, olhos azuis, nariz aquilino, teria sido o modelo para o Davi, de Verrocchio. Mas é a sua inteligência e o espírito brilhante que lhe mantêm essas portas abertas.

 

O Batismo de Cristo, de Verrocchio, é o seu primeiro trabalho importante de aprendiz: o anjo à esquerda segundo consta, é totalmente seu. Giorgio Vasari, pintor menor, mas o maior historiador da arte do Renascimento e contemporâneo de Leonardo, afirma que Verrocchio acabou desgostoso com a pintura, ao ver-se ultrapassado pelo próprio aluno. O certo, porém, é que Verrocchio exerceu sobre Leonardo profunda influência, a qual, embora pequena no campo artístico, foi bastante marcante no campo intelectual. Diz Vasari, a propósito de Leonardo: "Se não tivesse sido tão volúvel e inconstante, teria feito um grande proveito na erudição e nas letras". Ou em qualquer campo que escolhesse. O problema é que não se fixava e, ainda muito moço, já se dedicava aos desenhos arquitetônicos e aos inventos mecânicos.

 

Num ensaio famoso, Freud - o pai da psicanálise - atribui uma causa infantil a esta inconstância de Leonardo: viveu com a mãe somente até os 4 anos, quando ela se casou com um certo Accattabriga del Vacca. Indo morar com o avô paterno, Antonio, assistiu ao casamento do pai com Albiera Amadori. O casal não teve filhos e Leonardo chamava a madrasta de madrinha, ligando-se muito a ela. Mas ainda não tinha 13 anos no dia em que ela morreu, e viu o pai casar-se mais três vezes. E não tinha 14 anos quando morreu o avô, seu grande amigo.

 

O que encanta os críticos nas suas pinturas inacabadas é exatamente a possibilidade de verem a obra de arte no ato da sua criação. Fica em Milão até 1499 para projetar a catedral da cidade, mas acaba esboçando e construindo a rede de canais e um vasto sistema de irrigação e abastecimento de água. Além disso, planeja e organiza a defesa de Milão, pondo em prática sua "inventiva" na construção de máquinas para a guerra: o carro de assalto que imaginou, coberto de toras de madeira, movia-se à força de homens ou animais protegidos no seu interior, disparando sobre o inimigo com armas que se deslocavam sobre a abertura superior; o canhão de canos múltiplos disparava rajadas, como as metralhadoras inventadas séculos depois.

 

Urbanista, fez um projeto completo para a cidade de Milão, eliminando muros, alinhando ruas, prevendo esgotos, vias de dois pavimentos em que os pedestres andariam por cima, deixando a pista embaixo livre para veículos. As casas seriam amplas e ventiladas, e haveria enormes praças e jardins públicos.

Ainda encontrava tempo para superintender as representações teatrais, organizar as sessões de música no palácio e dirigir as grandes festas, enquanto trabalhava numa gigantesca estátua eqüestre de Francesco Sforza. Só o cavalo estava completo, quando os franceses, invadindo a cidade, destruíram o modelo em gesso em 1500. Também datam dessa época seus estudos de Anatomia e Proporções, de Perspectiva e de Óptica.

 

Também é dessa época o quadro A Virgem dos Rochedos, primeiro daquele período que chegou até nós acabado, embora esteja bastante danificado. É a primeira obra de Leonardo terminada que conhecemos e dela existem duas versões, uma no Museu do Louvre e a outra, provavelmente posterior, na Galeria Nacional de Londres. Um contrato assinado a 25 de abril de l483 obrigava-o a entregar, até o dia 8 de dezembro do mesmo ano, um mural para o altar da Virgem, na Igreja de São Francisco, em Milão. Leonardo contratou os irmãos De Predis para participar da execução, mas antes de terminada a obra romperam o contrato. No dia marcado, Leonardo não entregou o trabalho; começou aí uma questão judicial que durou 25 anos.

 

Ao que tudo indica, enquanto procurava cumprir a tarefa, com a colaboração dos irmãos De Predis e segundo exigências que determinavam uma série de pormenores na maneira de retratar os personagens, Leonardo trabalhava sozinho em outra versão, pessoal. É esta versão que está no Louvre. Inspira-se no animismo. Segundo esta doutrina, comum no Renascimento, a natureza inteira é animada por almas diversas, todas com caráter espiritual. Assim, a rocha, as flores, os animais e os homens constituem expressões diversificadas de uma mesma força vital e assim devem ser representados. Leonardo afirma, nos seus manuscritos, que a Terra vive e tem uma alma: os rios são suas artérias, os regatos são as veias, o fluxo e o refluxo do mar são o seu alento, nos vulcões está a residência da vida, o oceano em tomo dos mares é um lago de sangue em volta do coração. A Virgem dos Rochedos emerge de uma atmosfera vibrátil, densa, os objetos perdem os contornos rígidos para respirarem livremente, irradiando uma luz interna, nascida do íntimo, como se viesse mesmo da própria vida contida em cada um. O tema e o desenho foram tomados e copiados por contemporâneos, provavelmente alunos seus, com sutilíssimas modificações. Um desses quadros está na Pinacoteca de Milão e outro na Igreja de Affori, perto de Milão.

 

Na mesma época pintou A Ceia ou O Cenáculo, no qual retrata o momento em que Cristo anuncia haver um traidor entre os presentes. A intenção dramática é evidente na própria escolha da distribuição dos personagens, na fixação da atitude de cada um: espanto, suspeita, indiferença, dúvida, indignação, amor. A Ceia custou três anos de trabalho, de 1495 a 1497. Pintou-a numa parede do Convento de Santa Maria delle Grazie, em Milão, com mais de 9 metros de comprimento e 4 metros e 20 centímetros de altura. Leonardo começa trabalhando com rapidez, dias inteiros, esquecido de tudo. Mas atravessa uma época difícil. A guerra contra Carlos VIII desvia o bronze necessário para fundir o monumento a Francesco Sforza, que custara tantos anos de trabalho.
Ele se queixa a Ludovico e cai em desgraça.

 

Por essa época, vive frugalmente, como um monge. Vegetariano por convicção, não bebe porque "o vinho toma a sua vingança ao bebedor". Às vezes, passa vários dias sem pegar um pincel, desenhando e redesenhando as figuras da Ceia. Há uma enorme série de estudos não só do conjunto como de cada um dos apóstolos, inclusive despidos - para melhor estudar o movimento e a atitude de cada um. Esses desenhos estão em Milão, no Louvre, em Windsor, na Academia de Veneza e na Albertina de Viena. As duas figuras centrais, Cristo e Judas, merecem um longo estudo e uma incansável busca por modelos dignos. Judas acaba ficando muito parecido com Savonarola - que então domina a vida de Florença, até ser queimado.

 

Os críticos discutem até hoje se Leonardo terminou ou não sua obra. Sem muita sorte, apesar dos novos processos que ensaiou, em pouco tempo as cores começaram a desbotar, as paredes a descascar, a umidade atacando a têmpera aplicada diretamente sobre o muro.
É até possível que Leonardo tenha abandonado o trabalho, por causa das más condições do local. Luca Pacioli, amigo de Leonardo, escreve em 1498 que "o maravilhoso trabalho não está acabado, mas é uma obra-prima, numa localização infeliz". Os padres de Santa Maria chegam a abrir uma porta no mural. Sucessivas tentativas de restauração comprometem ainda mais a Ceia, que tendo escapado por um triz ao bombardeio aéreo na II Guerra Mundial, ficou sujeita depois a nova tentativa de restauração.

 

De qualquer forma, a Ceia devolve Leonardo às boas graças de Ludovico, que o presenteia com uma vinha em São Vitório. Mas desde a morte da mulher, em 1496, que Ludovico não é o mesmo homem, a corte não tem para ele o mesmo brilho. E quando os franceses invadem a cidade, em 1500, Leonardo, abalado pela derrota de Ludovico - de quem era conselheiro militar -, poe-se a serviço de César Bórgia. Em Florença ele é o Consultor para Questões de Arquitetura. De 1500 a 1501 viaja o tempo todo.

 

Em Veneza estuda o sistema defensivo da cidade, ameaçada pelos turcos, projeta gigantescas catapultas, preocupa-se com o domínio dos ares. Depois de estudar a fundo o vôo das aves conclui que o homem jamais voará batendo asas, mas está certo de que, resolvido o problema da propulsão, o homem voará, porque a estabilidade e o pouso não serão problema. Cria um pára-quedas e começa a estudar um engenho voador mecânico. Chega, inclusive, a criar o parafuso aéreo, uma antevisão do helicóptero, de propulsão mecânica.

 

Baseado no princípio de Arquimedes inventa uma bomba hidráulica, para elevar água, a primeira do gênero. Imagina ainda uma bomba de poço e uma roda hidráulica. Projeta uma ponte parabólica. Estuda os peixes e, para vencer a resistência da água, aconselha novos perfis para as embarcações. Projeta vários modelos de barco, inclusive um movido a rodas de pás - como os navios a vapor de trezentos anos depois.

 

Em Veneza é acusado de desrespeito aos mortos, por dissecar cadáveres, o que constituía crime, além de ser um terrível pecado contra a Igreja. O escândalo é abafado.
Nomeado engenheiro militar acompanha César Bórgia nos seus empreendimentos guerreiros e encontra tempo para inventar uma grua de cabrestante com freio dentado e equilibrada por contrapeso, um isqueiro para acender canhões e uma draga palustre de pás escavadoras. E também para pintar: começa Gioconda em 1503.

 

Segundo Vasari, Francesco del Giocondo, um rico florentino, encomendou a Leonardo - e pagou-lhe muito bem por isso - um retrato de sua mulher, Mona Lisa.
Quatro anos depois o quadro não está pronto. Aqui começa o grande debate: quem é a dama do quadro? A mulher de Giocondo? É este o retrato de uma jovem de 26 anos? Ou é o retrato de Constança dáAvalos, Duquesa de Francavilla, "inclusive com o véu negro de viúva?" Há quem afirme - e a sério - que o encantador sorriso é de um jovem, travestido.

 

Diz a lenda que Leonardo tocava, para distrair seu modelo, música composta por ele em instrumentos inventados por ele, como um órgão a água e uma lira de prata (que daria de presente a Ludovico). O certo é que a Mona Lisa del Giocondo se tornou o quadro mais célebre da pintura ocidental. Hoje está no Louvre, como principal atração turística, numa sala em que um Rafael e um Correggio passam despercebidos, ofuscados pela fama da Gioconda. Aqui também Leonardo foi copiado. A mesma pose foi repetida por dezenas de artistas que retrataram mulheres vestidas e despidas na mesma posição, à procura do mesmo sorriso inimitável, durante mais de cem anos.
Também data de 1503 Santana, a Virgem e o Menino, cuja exposição é um sucesso. Filipino Lippi, convidado a fazer o quadro para os padres da Annunziata, que queriam a Virgem, o Filho e a Mãe num mesmo altar, recusou-se modestamente, indicando Leonardo, em 1500. Ele recebe dinheiro por conta e não dá andamento ao trabalho, nem apresenta um projeto. Está preocupado com a Geometria, depois com a Hidráulica, em seguida com a Geometria dos Sólidos, e logo com a Anatomia.

Em Milão tenta recuperar a vinha que Ludovico lhe dera, procura acalmar os padres a quem ainda deve A Virgem dos Rochedos e aceita a incumbência de fazer uma estátua eqüestre, um monumento a Trivulce. Mas Ludovico reconquista o poder, os franceses fogem e Leonardo é obrigado a sair às pressas, acusado de colaborar com o inimigo.

 

Foge para Roma, coloca-se a serviço de Juliano de Medici. Roma não lhe é simpática, prefere Rafael e Michelangelo, artistas mais jovens. Nesta época quase não pinta, aprofunda seus estudos de Matemática, dedica-se decididamente aos projetos de Arquitetura e de Engenharia, aos estudos de Anatomia, à redação do seu tratado sobre pintura (que só será editado posteriormente em Paris para comemorar o seu centenário, em 1551, com o título de Tratado da Pintura).

E só em 1510 acaba por fim Santana, a Virgem e o Menino, ainda assim sem alguns detalhes. A morte de Juliano precipita sua partida de Roma. Aceita o convite de amigos franceses e deixa definitivamente a Itália em 1516. Leva seus manuscritos, centenas de desenhos, três quadros - todos os três feitos por encomenda e nenhum deles entregue.

 

Doente, com um problema de articulação na mão esquerda, não pinta mais, vai aos poucos perdendo as forças. Mora no Castelo de Cloux, perto de Amboise, no Touraine - uma residência de Francisco I. O rei é uma das suas visitas constantes. Outra é De Beatis, secretário do Cardeal de Aragon, a quem confessa que dissecara trinta cadáveres, corpos que precisou comprar ou roubar para arrancar a pele, seguir o caminho das veias, estudar a junção dos ossos, aprender a disposição dos músculos, á procura dos segredos do movimento do homem. Mostra suas pesquisas, as conclusões a que chegou, as questões que formulou, tudo anotado numa escrita peculiar, intraduzível, indecifrável durante anos (até que se descobriu que ele escrevia para ser lido diante de um espelho). Esses cadernos, se revelados e aceitos na época, certamente teriam feito a medicina avançar cem anos, no mínimo.

 

O mês de abril de 1519 ele o passa na cama, cercado por três quadros: a Mona Lisa del Giocondo; Santana, a Virgem e o Menino e o São João Batista, que provavelmente pintou em Roma como sua última obra.

 

No dia 2 de maio o Rei Francisco I visita mais uma vez Mestre Leonardo. Para aliviar-lhe a dor, sustenta sua cabeça nos braços. "Reconhecendo que não podia gozar de honra maior" (segundo Vasari), Leonardo da Vinci morre nos braços do rei.

 

Está morto o homem que inventou sapatos para caminhar sobre a água, que inventou o salva-vidas, que inventou o compasso parabólico, que inventou máquinas capazes de fazer lentes telescópicas de 6 metros e lentes côncavas, que demonstrou a impossibilidade do moto-contínuo, que descobriu a mecânica dos músculos, que mediu a distância do Sol a Terra e o tamanho da Lua.

 

Está morto o homem que pintou o quadro mais reproduzido do mundo, além de pintar o quadro mais célebre, mas que entre todas suas obras só gostava verdadeiramente de Santana, a Virgem e o Menino.

 

 

 

2. Michelangelo

Pintor, escultor, arquiteto e poeta italiano, Michelangelo Buonarroti foi um dos maiores artistas de todos os tempos. Nasceu e estudou em Florença, mas criou as primeiras grandes esculturas em Roma: a Pietá (1499) e Baco (1496-1497). De volta a Florença, completou a famosa estátua de David, em 1504. O Papa Julio II pediu-lhe então que pintasse o teto da Capela Sistina. Trabalhando quase sem ajuda e deitado de costas com andaimes precários, Michelangelo levou quatro anos para pintar no teto as cenas do Antigo Testamento, incluindo A Criação de Adão, o Dilúvio e A Embriaguez de Noé. O teto, que combinava as formas heróicas do Renascimento clássico com temas cristãos, inspirou temor em seus contemporâneos. Mais tarde, entre 1535 e 1541, Michelangelo pintou o Juízo Final na parede do altar da capela Sistina. Aos 71 anos, foi nomeado arquiteto da Basílica de São Pedro. Pouco antes de morrer, com 89 anos, ainda escrevia poesias.

Michelangelo tinha convicções religiosas profundas e afirmava muitas vezes que seu trabalho incansável era inspirado pela glória de Deus. A encomenda que constituiu o maior desafio para ele foi o túmulo do Papa Julio II. Trabalhou nele cerca de 40 anos, durante os quais o desenho foi modificado muitas vezes. As impressionantes figuras dos Cativos, hoje no Museu do Louvre, em Paris, foram esculpidas para o túmulo, mas consideradas impróprias. A versão final foi completada em 1545, mas a figura de Moisés foi a única feita pelo próprio Michelangelo. Com 30 anos era chamado "o divino", por seu notável talento.

 

3. Arquitetura

A arquitetura renascentista possui características da Antigüidade clássica. A arte grega e romana, assim como o estilo gótico, foram observadas pelos arquitetos da renascença e influenciaram diretamente suas obras arquitetônicas.

As principais características das construções desse período eram a perspectiva linear e a simplicidade, com espaços internos mais amplos e claros. Os arcos formatavam voltas perfeitas, plenamente arredondados, as colunas eram simples, com capitéis coríntios. As abóbadas tinham formato semi-circular, lembrando os arcos romanos. As janelas renascentistas eram quadradas, amplas e tinham vidros transparentes e incolores, proporcionando maior claridade ao interior do edifício. A arquitetura renascentista deixou sua marca nos palácios, igrejas, fortalezas e vilas.